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EntrevistaReportagem

Rui Neves Moreira: Comunicar Saúde em tempos de pandemia

Ana Suzete, Cristiana Sousa e Paula Portela

O Hospital de São João foi considerado, em 2021, o melhor hospital do país no que toca a níveis de notoriedade, confiança e admiração pelos portugueses. Este reconhecimento foi-lhe garantido pela Consultora OnStrategy, no seu estudo de relevância em Responsabilidade Social, que coloca o Hospital de São João acima de todos os hospitais a nível nacional e até de algumas empresas reconhecidas.

Numa escala de 100 pontos, e entre mais de 40 setores de atividade, este estudo vem destacar pela primeira vez as marcas associadas ao setor da saúde, que registam os melhores índices:

  1. HOSPITAL SÃO JOÃO (81,9 pts).
  2. HOSPITAL SANTA MARIA (81,7 pts).
  3. HOSPITAL CUF (81,5 pts).
  4. HOSPITAL DA LUZ (81,4 pts).
  5. HOSPITAL LUSIADAS (81,1 pts).
  6. PFIZER (80,8 pts).
  7. FUNDAÇÃO CHAMPALIMAUD (80,6 pts).
  8. CRUZ VERMELHA (80,3 pts).
  9. SANTA CASA (80,2 pts).
  10. FEDERAÇÃO PORTUGUESA FUTEBOL (80,0 pts).

O estudo da OnStrategy tem como base a avaliação feita pela generalidade da população no que toca a marcas e entidades conhecidas dos portugueses. O Hospital de São viu a sua imagem de hospital de referência ficar ainda mais afirmada, e um dos grandes responsáveis por isso foi Rui Neves Moreira que, com apenas 27 anos, viu-se responsável pela Assessoria de Imprensa do Hospital de São João (HSJ) quando a pandemia COVID-19 entrou em Portugal, em março de 2020.

Licenciado em Ciências da Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, entrou no curso com o intuito de ser jornalista. No entanto, o destino trocou-lhe as voltas, e a Assessoria de Imprensa entrou na sua vida, para nunca mais sair.

Afirma que, na assessoria de imprensa, é essencial, para além da formação académica, ter foco nos resultados e uma grande capacidade de resolução de problemas, características essas que o ajudaram no seu trabalho enquanto Assessor de Imprensa no Hospital de São João no último ano.

“A comunicação de crise está mais que estudada e os seus princípios são transversais a qualquer tipo de crise, seja uma catástrofe, seja uma crise de honorabilidade, ou uma crise financeira ou económica

“A comunicação de crise está mais que estudada e os seus princípios são transversais a qualquer tipo de crise, seja uma catástrofe, seja uma crise de honorabilidade, ou uma crise financeira ou económica. Mas efetivamente, ninguém está preparado para uma crise, e as qualidades que referi foram uma mais valia para o meu trabalho neste período”, reflete o responsável.

 E de repente… uma pandemia!

Por sorte, azar, ou mero acaso do destino, Rui assumiu a sua função de Assessor de Imprensa pouco tempo antes do início da pandemia em Portugal. Reconhece que esta foi uma situação trágica para o país, mas ainda assim, um dos maiores desafios da sua carreira até agora.

Sob o ponto de vista profissional, tem sido um grande desafio. Sempre olhamos para esses temas (da saúde) com muita reserva, pelo lado negativo, ou só quando acontece alguma coisa de mal. Eu coloco-me o desafio de mudar completamente essa visão, no âmbito da qualidade e da imagem percebida dos hospitais” afirma Rui, sublinhado que o Hospital de São João foi distinguido recentemente, enquanto marca, pela sua reputação e notoriedade, algo que o deixa bastante orgulhoso. “É um hospital com autoestima, e um hospital com autoestima só pode comunicar bem e ter confiança naquilo que faz”.

Quando questionado sobre o momento que mais o marcou no último ano, recorda-se de um momento em específico, algumas semanas depois do primeiro infetado ter sido diagnosticado em Portugal.

Com o início da pandemia, houve uma necessidade de comunicar de forma mais clara o funcionamento dos hospitais, e Rui acredita que o Hospital de São João foi um pioneiro dos processos de comunicação que se praticaram durante a pandemia.

“Naturalmente, houve uma necessidade mediática de se perceber o funcionamento dos hospitais, e o HSJ deu uma pedrada no charco de um conjunto de hospitais e de instituições de saúde, que não comunicavam e precisavam de abrir mais as portas. E muitos deles continuaram a fazê-lo, continuam a fazê-lo. Foi um navio almirante da comunicação, que se mostrou disponível para comunicar, como comunicou, com confiança, com brio.”

No entanto, nem todo o crédito pode ir para os hospitais. Também os jornais tiveram um papel preponderante na comunicação efetiva de assuntos relacionados com saúde e, afirma Rui Moreira, fizeram-no de forma exemplar.

“As pessoas, lá em casa, não conhecem bem o funcionamento dos hospitais. Ou não conheciam, até então. Hoje, toda a gente sabe o que é um ventilador, toda a gente sabe o que é o ECMA, toda a gente sabe o que é uma unidade de cuidados intensivos. Portanto, houve essa necessidade de mostrar”, afirma Rui, que fala também sobre a necessidade de reinvenção a que os meios de comunicação estiveram sujeitos.

Apesar da sua opinião positiva sobre o trabalho feito pelos meios de comunicação, Rui recorda um momento de comunicação que o marcou mais pela negativa, relativo ao processo de vacinação que se encontra a decorrer no HSJ.

“Houve uma necessidade de converter um conjunto de áreas, fechando-as no campo da saúde. Todos nós nos lembramos de noticiários de março, abril, que eram do minuto 1 ao minuto final noticiários COVID. Isso não era feito por 1, 2 ou 3 jornalistas de saúde, era feito por todos os jornalistas que trabalhavam para os meios de comunicação. Portanto, houve uma necessidade de adaptação e de compreensão da área, e por isso, eu acho honestamente, só devemos estar orgulhosos de como os meios de comunicação”.

O pós-pandemia na carreira de Rui Neves Moreira

Rui acredita que este momento da sua vida ficará sempre marcado como o melhor desafio que terá em toda a sua vida. E enquanto “spin doctor”, afirma que a assessoria de imprensa tem um papel importante em três dimensões da imagem, na sua conjugação.

“Acho que a assessoria de imprensa tem um papel muito importante, de cura, nas três dimensões da imagem. A imagem percebida, que é a imagem que as pessoas interpretam de um comportamento da instituição, a imagem comunicada, que é resultante do meu trabalho, o trabalho de assessoria de imprensa, e a imagem real(…).Eu acho que o grande poder de cura é exatamente fazer coincidir a imagem real, a imagem comunicada e a imagem percebida. Acho que é essa a grande mais valia de, da assessoria de imprensa.”

Rui Neves Moreira sente-se um profissional realizado, e não trocaria este momento profissional da sua vida por nada deste mundo. No entanto, encara o seu futuro com otimismo, revelando que gostaria de trabalhar na área da política, possivelmente conjugada com a área da saúde, e ainda de enveredar pelo meio académico. Projetos de futuro daquele que foi um dos rostos por trás da comunicação de um dos maiores hospitais do país, numa época sempre precedentes.