O SARS-CoV-2 apareceu repentinamente revolucionando toda a nossa vida tal como a conhecíamos até então. Em março de 2020 o Mundo parou quando a OMS, em total desconhecimento deste vírus, considera a COVID-19 pandemia à escala mundial. Em poucos meses a doença espalhou-se em mais de 180 países sendo que em Portugal o primeiro caso reportado, foi em março 2020, na região norte do país.
Desde então, e até à data, já foram infetadas mais de 170M de pessoas e morrem mais de 3,6M, números que desactualizam ao segundo. Muitos questionaram como é possível numa era tão avançada cientificamente, não haver respostas imediatas. O certo é que ninguém sabia como travar este vírus que ameaçava a Humanidade.
Desde março de 2020, quando a OMS declara a COVID-19 pandemia que se concentraram esforços para desenvolver uma vacina para combater a doença. Foram vários os laboratórios numa corrida contra o tempo na tentativa de controlar o vírus. Eram mais de cinquenta e cinco imunizantes a serem estudados e testados em todo mundo, mas na verdade só treze chegaram à fase três dos ensaios, a última antes da aprovação pelas entidades reguladoras. Em tempo recorde, apenas 8 meses, a Moderna, a Pfizer e Astrazeneca anunciavam o esperado – eficácia superior a 90%.
Vacinar – sim ou não?
A vacinação é uma forma segura e eficaz de prevenir doenças e proteger as pessoas, criando defesas naturais no nosso organismo e resistência a infeções que salvam milhões de vidas em todo mundo. Num passado recente foram desenvolvidas muitas vacinas que erradicaram doenças, tal como a varíola. Quando somos inoculados não estamos a protegermo-nos só a nós, mas também a quem está ao nosso redor. As vacinas treinam o nosso sistema imunológico para criar anticorpos, contendo apenas formas mortas ou enfraquecidas de vírus ou bactérias.
Mesmo antes da Covid-19, várias correntes defendiam a não-vacinação, causando surtos de sarampo por todos mundo. Na verdade as vacinas já erradicaram muitas doenças e sem elas a medicina não estaria tão avançada, vejam, por exemplo o caso das vacinas contra a Raiva, a Febre Amarela, o Tétano ou a Hepatite.
A nova tecnologia do RNA mensageiro
Duas das vacinas contra a COVID-19 foram desenvolvidas com a tecnologia que usa o RNA mensageiro (mRNA). Esta abordagem esta a ser estudada há mais de dez anos demonstrando segurança e com uma resposta bastante duradoura. O mRNA usa apenas uma secção de material genético que irá fornecer as instruções para proteínas específicas, ou seja, é uma abordagem genética – vacina de ácido nucleico. Com a pandemia da Covid-19 a investigação progrediu muito rapidamente (anteriormente ainda estava a ser submetida a testes em humanos) já com autorização por parte das entidades reguladoras do medicamento para serem comercializadas.
Há mais dois tipos de vacinas, as que usam o vírus ou as bactérias vivas e as que usam apenas partes dos vírus ou bactérias, para conseguirem desencadear o sistema imunológico.
O desenvolvimento das vacinas, assim como de outros fármacos, numa fase experimental ou pré-clinica são testadas em animais, para avaliar a segurança e a potencial eficácia. Se a vacina desencadear uma resposta imunitária passa a ser testada em humanos em três fases distintas.
Numa primeira fase é experimentada num pequeno grupo de voluntários jovens e saudáveis, na segunda é inoculada em algumas centenas de voluntários já estratificados em vários grupos etários e em grupos de comparação, com diferentes formulações para assim determinar se há alterações, e se são ou não atribuídas à molécula em estudo. Já na terceira e última fase os cientistas passam a testar em milhares de pessoas onde comparam grupos que recebem a vacina ou o placebo. Quando a molécula garante segurança e eficácia elevada passa à fase de aprovação pelas entidades reguladoras do medicamento e posterior distribuição.
Importa dizer que a monitorização dos fármacos continua permanentemente, sendo os laboratórios de investigação notificados pelos efeitos adversos que, eventualmente, possam surgir, ao que chamam farmacovigilância.
Corrida contra o tempo
Foi no dia 1 de fevereiro de 2020, pela sexta vez, que a OMS decretou estado de emergência desta vez devido à Covid-19. Os coronavirus não são desconhecidos pelos cientistas que, há mais de quinze anos estudam este vírus, inicialmente transmitido por aves, como é o caso do SARS e do MERS. Mas o índice de transmissão da Covid-19 é de tal maneira elevado, que, rapidamente obrigou o mundo a parar.
Numa corrida contra o tempo reuniram-se esforços e os investigadores não tiveram mãos a medir. Era urgente travar a transmissão da doença e a pandemia, para isso era necessário descobrir um fármaco seguro e eficaz em tempo recorde. A média de tempo de investigação é de dez anos e o mundo não tinha esse tempo. O certo é que ao fim de 8 meses três dos vários laboratórios farmacêuticos envolvidos, a Moderna, a Pfizer/BioNTec e a Astrazeneca anunciam resultados promissores, com mais de 90% de eficácia nas suas vacinas.
Mas como é que estes laboratórios chegaram tão rapidamente a estes resultados? Qual a tecnologia que usaram?
Quer a Moderna quer a Pfizer/BioNTec investiram numa vacina genética. Foram as primeiras a chegar com esta tecnologia, usam um bocado do mRNA do SARS-CoV-2 envolto numa cápsula de gordura, que ao entrar no organismo produz uma proteína igual à que o vírus usaria para se reproduzir. O sistema imunológico reage e ativa as defesas do corpo. Estes laboratórios já investigavam o RNA para criar medicamentos e vacinas, no fundo só precisaram de acelerar o processo. Aliás, a Moderna foi fundada em 2010 com o intuito de estudar o RNA, como mostram as três últimas letras do nome do laboratório. Esta tecnologia obriga a duas inoculações com um mês de intervalo.
Já a Astrazeneca em parceria com a Universidade de Oxford usou um adenovírus que causa gripe em chimpanzés, para carregar o material genético do novo coronavírus. Estes investigadores já tinham testado esta tecnologia com a MERS, em 2012, também causada por um coronavírus. Esta vacina é aplicada em duas doses num espaçamento de até três meses depois da primeira.
Por seu lado a Johnson & Johnson usa um adenovírus inofensivo – vetor viral – trocando uma pequena parte das instruções genéticas com os genes da proteína do SARS-CoV-2. A vacina de vetor viral são seguras já que o adenovírus não se consegue replicar nem causar a doença nas células humanas. Esta abordagem não é nova já tendo sido utilizada no combate ao vírus do Ébola. A vacina é de toma única.
Quinze meses passados desde que a Organização Mundial de Saúde declarou a Covid-19 como pandemia há sete vacinas em uso, em todo mundo. Na Europa só quatro estão autorizadas – Moderna, Pfizer/BioNTec, Astrazeneca e Janssen. O plano de vacinação é a prioridade de todos os países, já que para retomarmos a uma vida “normal” é necessário vacinar 75% da população mundial e esperar que as vacinas sejam eficazes nas variantes que vão surgindo.
No Mundo já se administraram 2,12mM de doses, 458M pessoas totalmente vacinadas e cerca de 6% da população inoculada. Em Portugal já se atingiu 6,23M de doses com 2,11M pessoas totalmente vacinadas ou seja quase 21% população.