Projeto
Conhecer, Mapear, Incluir: População Roma/Cigana em Portugal
Programa:
Concurso Estudo Nacional das Comunidades Ciganas – FCT
Período de execução:
01/10/2024 a 20/09/2026
Coordenação:
Inês Barbosa
Instituição promotora:
Instituto de Sociologia da Universidade do Porto (FLUP)
Instituições parceiras:
CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória (FLUP);
CIES – ISCTE – Centro de Investigação e Estudos de Sociologia;
CIIE – Centro de Investigação e Intervenção Educativas (FPCEUP);
CPUP – Centro de Psicologia (FPCEUP);
CICS.NOVA Universidade do Minho – Centro de Investigação em Ciências Sociais

Em Portugal, há uma falta de conhecimento atualizado sobre as condições de vida das comunidades ciganas, o que compromete a eficácia das políticas públicas de inclusão social. Este estudo visa preencher essas lacunas, utilizando uma abordagem metodológica pluralista e interdisciplinar que combina inquéritos quantitativos (focados em saúde, emprego, educação e discriminação) e dados qualitativos de entrevistas, etnografias e fontes históricas. Promove-se uma investigação “com” e não “sobre” as comunidades ciganas, envolvendo-as em várias escalas (local, regional, nacional) e destacando a sua diversidade social e económica, a partir de uma perspetiva interseccional. A disseminação de resultados incluirá workshops participativos, policy briefs, podcasts e uma exposição, mobilizando uma sociologia pública orientada para a resolução de questões sociais.
Subsistem em Portugal severas limitações em termos de um conhecimento sistemático, atualizado e aprofundado sobre as condições e quadro de vida das pessoas ciganas/Roma em Portugal, o que constitui um obstáculo à monitorização ao nível do impacto e efetiva eficácia das políticas públicas e sobre os processos de integração desta população. Este estudo procura superar estas lacunas, comprometendo-se a recolher e disponibilizar dados diversos, sólidos e desagregados provindos de uma diversidade de fontes de informação e resultantes da mobilização de uma estratégia marcada pelo pluralismo metodológico. Neste contexto de análise, esta pesquisa irá mobilizar uma estratégia multi-métodos, intersetando abordagens qualitativas, quantitativas e participativas.
Além de dados quantitativos obtidos por meio de dois inquéritos por questionário, abordando áreas estratégicas como saúde, emprego, educação, habitação, formação profissional, desigualdade de género, discriminação e anticiganismo, utilizaremos dados de natureza mais qualitativa. Esses incluem informações provenientes de entrevistas em profundidade (retratos sociológicos), etnografias realizadas em diversos contextos sócio-habitacionais, análise de fontes históricas e métodos participativos. Desde a conceção até à implementação, monitorização e publicação deste estudo, promoveremos ativamente a participação ativa de pessoas e coletivos de origem cigana, tornando-os protagonistas no processo de construção social do conhecimento sobre si próprios.
ABORDAGEM METODOLÓGICA
inquéritos & entrevistas
fontes
históricas
etnografias
WORKSHOPS
PARTICIPATIVOS
RETRATOS SOCIOLÓGICOS
Busca-se implementar uma estratégia de co-produção coletiva de conhecimento e mais inclusiva, uma pesquisa “com” os Ciganos/Roma e não “sobre e para” eles (Ryder, 2018). Neste processo, procura-se envolver organizações e grupos informais ciganos, bem como outras instituições que atuem próximas a essa comunidade, em várias escalas (local, regional e nacional). O objetivo é produzir recomendações em termos de políticas públicas que combatam de forma eficiente e efetiva os diferentes níveis e formas de desigualdade e discriminação (negativa).Continuam a faltar estudos e dados históricos sobre a posição, a presença, os contributos e as relações das pessoas ciganas com as sociedades de acolhimento ao longo do tempo, assim como sobre os ciganos pertencentes a classes mais elevadas. Invariavelmente, os estudos tendem a centrar-se sobre as pessoas e famílias que vivem em situações de maior vulnerabilidade sócio-económica, acresce que os estereótipos sobre os Ciganos tendem a ocultar as elites e aqueles que pertencem a uma classe média, por vezes chamados de Ciganos invisíveis (Ruegg e Boscoboinik 2009; Magano, 2014).
Importa des-homogeneizar e deixar de lado perspetivas reificadoras e homogeneizadoras que não permitem apreender e compreender a heterogeneidade cultural e diferentes formas de inserção social e espacial (Mendes, 2007; Lopes, 2008; Magano, 2010; Nicolau, 2011; Sousa, 2013; Silva, 2015). Esta pesquisa tem como intenção desocultar e analisar esta diversidade e heterogeneidade cultural, étnica, social, económica, simbólica, geográfica das pessoas e coletivos de origem cigana em Portugal e adotar uma perspetiva interseccional que intersete e interrelacione vários fatores que estão na origem de mecanismos de produção e reprodução de desigualdades sociais, numa perspetiva multidimensional e multinível.
Continua a haver um grande desfasamento entre quem desenha as políticas e as implementa e os sujeitos ciganos objeto dessas políticas, o mesmo sucede nos processos de produção de conhecimento, assim nesta pesquisa a estratégia teórico-metodológica e epistemológica – investigação com pessoas ciganas-, implica colmatar o fosso entre académicos, ativistas e decisores políticos. Iremos, ainda, privilegiar uma abordagem pluriescalar (micro, meso e macro) que reconheça a interconexão e interdependência de distintos níveis sociais, assim como uma análise interdisciplinar, dada a pluralidade das áreas disciplinares em presença (sociologia, antropologia, história, ciências da educação, psicologia social, entre outros); o pluralismo metodológico que carateriza as abordagens dos investigadores/as (métodos quantitativos, métodos qualitativos, mixed methods, metodologias participativas) e as suas experiências de pesquisa (Romani studies, racismo, políticas públicas, estudos migratórios, desigualdades sociais e urbanas, género, sociologia do direito, saúde pública, etc.).
Este projeto tem ainda uma forte componente de transferência de conhecimento, expressa em workshops de devolução e discussão de resultados de pesquisa; policy e social briefs; uma exposição do “Museu da Pessoa” e um podcast sobre história e cultura do povo cigano. Esta pesquisa, enquadra-se, pois numa perspetiva de “sociologia pública” (Burawoy, 2021), visando aplicar os conhecimentos e as perspetivas sociológicas na esfera pública e na resolução de questões sociais concretas.