Recolhas

Metodologia

Amostras recolhidas até 2011

Todas as recolhas foram obtidas por estudantes de Linguística Portuguesa da Faculdade de Letras da Universidade do Porto como parte das suas tarefas para obtenção de classificação em diversas disciplinas, desde 1994 até ao presente. Dependendo de cada disciplina e de cada ano letivo, este trabalho podia ser um trabalho facultativo ou um trabalho obrigatório.

As principais instruções dadas aos estudantes, até 2011, continham as seguintes indicações:

– a gravação, consentida pelo informante, de uma entrevista espontânea com cerca de 15-20 minutos de duração, sobre temas livres e/ou induzidos;

– que, na medida do possível, fosse escolhido um informante que falasse uma variedade do português europeu diferente da do entrevistador;

– que o informante não fosse cabalmente esclarecido acerca dos objetivos específicos da entrevista, de modo a obter-se uma produção o menos controlada possível do ponto de vista da atenção/correção sociolinguística;

– o registo completo dos dados sociodemográficos do informante: sexo, idade, escolaridade, profissão; local de nascimento; origem geográfica dos pais; diversas localidades em que vivera ao longo da vida;

– que, da entrevista total, fosse selecionado um trecho com cerca de 60 a 90 segundos em que, na opinião do entrevistador, se concentrasse o maior número de ocorrências de fenómenos de variação socioletal e/ou dialectal.

Esta entrevista devia ainda ser completada com um trabalho escrito que incluísse:

– a transcrição ortográfica e fonética do trecho da entrevista selecionado como o mais rico do ponto de vista da variação socioletal e/ou dialetal;

– um levantamento/identificação dos fenómenos de variação socioletal/dialetal atestados na amostra;

– uma breve descrição/comentário dialetal da amostra;

– eventuais anexos documentais (facultativos), tais como mapas, imagens, etc.;

– bibliografia consultada.

As peças a entregar ao professor seriam a gravação, em qualquer suporte, do trecho da entrevista recolhida e o trabalho escrito correspondente, respeitando-se sempre o anonimato civil do informante entrevistado. Em alguns casos, foi entregue a gravação da entrevista completa, e não apenas o trecho de 60 a 90 segundos sobre que devia incidir o trabalho propriamente dito.

Nesta fase da constituição do que viria a ser o acervo do Arquivo Dialetal, não eram impostos requisitos muito exigentes quanto ao tipo e à qualidade da gravação sonora e respetivo suporte físico, dado que a principal motivação desta proposta de trabalho não era verdadeiramente a constituição de uma base de dados dialetal (ideia que só surgiria muito mais tarde), mas sim estimular junto dos estudantes a disponibilidade para a recolha de dados e a sua familiarização com o trabalho prático e de campo em linguística. Esta situação trouxe as seguintes vantagens e desvantagens:

Vantagens: atraiu um grande número de estudantes para esta tarefa e permitiu assim reunir uma vasta coleção de material dialetal;

– Desvantagens: grande parte das recolhas (e do seu tratamento) apresenta uma deficiente qualidade sonora ou de análise linguística.

Amostras recolhidas a partir de 2011

O trabalho efetuado no âmbito do Arquivo Dialetal a partir de 2008 permitiu, entre outros resultados, um melhor diagnóstico das limitações que este tipo de metodologia impôs às amostras recolhidas, impossibilitando o seu aproveitamento para um estudo linguístico mais aprofundado. Assim, a partir de 2011, os critérios para a recolha de amostras dialetais no âmbito do trabalho académico promovido desde 1994, além de passarem a incluir explicitamente o objetivo de tais recolhas integrarem o acervo do Arquivo, restringiram de forma mais exigente as condições técnicas das recolhas.

Assim, as amostras recolhidas a partir de 2011 mantêm algumas indicações metodológicas em vigor no período anterior – entrevista espontânea e consentida com cerca de 15-20 minutos de duração, sobre um tema livre, a partir da qual se seleciona um trecho com cerca de 60-90 segundos de duração em função da avaliação da sua relevância dialectal, feita pelo próprio autor, e se redige um trabalho escrito com características semelhantes às do período anterior -, mas respeitam um número acrescido de requisitos e exigências de caráter técnico, ético e metodológico, de que aqui destacamos os seguintes:

– melhoria das condições acústicas da recolha: na impossibilidade de a gravação se fazer numa sala insonorizada ou com tratamento acústico, preferir salas silenciosas, sem eco, sem a presença de outras pessoas além do entrevistado e entrevistador, sem equipamentos eletrónicos ligados (exceto os que se destinam à recolha propriamente dita), com superfícies que absorvam a reverberação (salas revestidas de livros e/ou têxteis, por exemplo);

– melhoria dos suportes a utilizar na gravação sonora: esta deve ser feita e entregue em suporte digital e em formato .wav;

– obtenção do consentimento explícito do informante, dado por escrito, no sentido de se autorizar a recolha da entrevista para fins estritamente académicos e científicos e autorizando explicitamente a eventual inclusão e divulgação da amostra na página do Arquivo, sempre contra a garantia de manutenção do anonimato civil do informante;

– obtenção do consentimento explícito do autor da recolha, dado por escrito, no sentido de ceder os direitos da recolha ao Centro de Linguística da Universidade do Porto e autorizando explicitamente a consulta do material recolhido e do respetivo tratamento a investigadores autorizados pelo coordenador do projeto, bem como a eventual inclusão e divulgação da amostra na página do Arquivo;

– ficha de caracterização sociodemográfica do informante. A fim de se evitar discrepâncias e lacunas na caracterização sociodemográfica dos informantes, verificadas em muitas das amostras reunidas nos primeiros anos de recolhas, esta caracterização passa a fazer-se através de um inquérito fechado, igual e obrigatório para todos os estudantes envolvidos;

– ficha de localização geográfica. A fim de se evitar discrepâncias e lacunas na localização geográfica dos informantes, verificadas em muitas das amostras reunidas nos primeiros anos de recolhas, esta caracterização passa a fazer-se através de um inquérito fechado, igual e obrigatório para todos os estudantes envolvidos.

Os documentos citados nos parágrafos anteriores passam a integrar, como anexos obrigatórios, todos os trabalhos de recolha dialetal realizados a partir de 2011 e têm natureza confidencial, ficando arquivados no CLUP e acessíveis para consulta apenas para os profissionais que trabalham no projeto.