Transcrição Ortográfica e Fonética das Amostras
Levantamento dos fenómenos de variação presentes nas amostras
Todas as amostras disponibilizadas nesta página são apresentadas em transcrição ortográfica e em transcrição fonética. A maior parte das amostras do Arquivo que não foram transpostas para esta página e que se encontram para consulta física nas instalações do Centro de Linguística da Universidade do Porto foram também objeto de transcrição ortográfica e fonética.
As transcrições são todas da autoria de Pedro Tiago Martins.
As transcrições tomam por base as gravações constantes do Arquivo e foram integralmente feitas de raiz, ignorando por completo as transcrições apresentadas pelos estudantes que efetuaram as recolhas, dado que tais transcrições apresentavam uma elevada quantidade de erros, lacunas, discrepâncias, incorreções e disparidade de critérios.
Para cada amostra, é apresentada uma transcrição ortográfica, uma transcrição fonética e uma transcrição alinhada (esta última fazendo corresponder as duas primeiras num só documento).
Em todas estas transcrições, optou-se por separar por espaços em branco os segmentos correspondentes às palavras ortográficas, por facilidade de leitura (e seguindo, assim, a convenção em vigor nas “Illustrations of the International Phonetic Association” do Journal of the International Phonetic Association).
Em resumo, as principais características e convenções das transcrições aqui apresentadas são as seguintes:
* Transcrições ortográficas
– separação por espaço em branco das palavras ortográficas;
– ausência de sinais de pontuação;
– ausência de maiúsculas;
– omissão de segmentos ininteligíveis.
* Transcrições fonéticas
– Pretendeu-se apresentar, de cada amostra, uma transcrição fonética estreita, com base em todas as convenções da International Phonetic Association. O alfabeto utilizado foi o Alfabeto Fonético Internacional (versão de 2005).
– separação, por espaços em branco, de segmentos coincidentes com palavras ortográficas;
– marcação do acento fonológico (lexical);
– omissão de segmentos ininteligíveis.
Explicação/explicitação de algumas opções a nível dos símbolos fonéticos
A identificação das categorias transcritas assentou numa análise auditiva por parte do “transcritor” original (Pedro Tiago Martins) e do revisor principal (João Veloso), recorrendo-se ao auxílio de software de análise acústica nos casos considerados por ambos como dúbios ou por natureza difíceis de transcrever. Nesses casos, procedeu-se também a uma experiência de “Inter-judge Agreement”, que consiste no cruzamento de transcrições realizadas por vários especialistas e na sua validação ou rejeição com base na taxa de concordância – o consenso entre “transcritores” (vd. Martins & Veloso 2012). Os resultados foram encorajadores e melhoram as transcrições na sua generalidade. Tentou-se com as transcrições fonéticas aqui apresentadas ser o mais neutro possível, não tendo sido levado em consideração nenhum aspeto fonológico, com a exceção do acento. Isto significa que algumas convenções e símbolos fonéticos utilizados poderão ser pouco familiares relativamente a descrições anteriores do português. De entre eles, destacam-se os seguintes:
– Símbolos para os róticos: Foram identificadas sete realizações diferentes das consoantes normalmente designadas na literatura por “vibrantes”, correspondentes aos segmentos designados também, noutras propostas terminológicas, por róticos: vibrante múltipla alveolar [r], vibrante múltipla uvular [ʀ], fricativa uvular vozeada [ʁ], fricativa velar desvozeada [x], fricativa uvular desvozeada [χ], vibrante simples alveolar [ɾ] e vibrante simples retroflexa [ɽ]. Foram usados os símbolos correspondentes a cada uma destas realizações, independentemente da sua consagração em descrições anteriores da língua.
– Lateral retroflexa: Foi identificada em algumas amostras uma realização retroflexa da lateral alveolar, tendo sido utlizado nesses casos o símbolo correspondente à aproximante lateral retroflexa ([ɭ]).
– Desvozeamento: Foram assinaladas com o diacrítico de desvozeamento ( ̥ ) todas as vogais e consoantes fonologicamente vozeadas mas foneticamente realizadas sem vozeamento, mesmo quando encontradas em contextos não referidos por estudos anteriores.
– Fricativas alveolares: A distinção pré-dorsal/apical nas fricativas alveolares foi sistematicamente assinalada através do uso dos símbolos correspondentes à fricativa retroflexa vozeada ([ʂ]) e fricativa retroflexa vozeada ([ʐ]) nos casos de realização apical.
– Coarticulação de vogais: Foram identificados alguns casos a que aqui nos referiremos como coarticulações vocálicas. O fenómeno, atestado especialmente nos dialetos setentrionais, consiste na mudança da qualidade vocálica de uma vogal (normalmente [o], mas não exclusivamente) na sua fase final, sendo a realização final mais próxima de [ɐ]. Este fenómeno foi assinado através de uma ligadura unindo as duas vogais co-articuladas (p. ex. [o͡ɐ]; [e͡ɐ]).
– Ausência de consoantes glotais: Há várias ocorrências da consoante glotal não vozeada ([ʔ]), cujo registo seria de esperar dado o nível de rigor das transcrições. No entanto, por ser extremamente difícil de detetar inequivocamente – e também com as atenuantes de não fazer parte do inventário fonológico do português e de não ser um alofone sistematicamente atestado -, optou-se por omitir este segmento na grande maioria dos casos.
Pode consultar uma lista de todos os símbolos fonéticos e diacríticos utilizados AQUI.